Projeto de doutoramento, financiado pela FCT UI/BD/150924/20
Investigação de doutoramento de João Paulo Pedro
Sob a orientação científica do Professor Doutor Rui Bebiano (Universidade de Coimbra) e da Professora Doutora Hermínia Sol (Instituto Politécnico de Tomar), no âmbito do Programa de Doutoramento em “Discursos: Cultura, História e Sociedade” da Universidade de Coimbra.
A Revolução de 25 de Abril de 1974 mantém-se como um dos marcos históricos mais significativos da sociedade portuguesa. A menção de “Abril” evoca iconografias de cravos em espingardas, palavras de ordem gritadas ou cantadas, ideias de «excessos» ou «promessas» de um Abril tão múltiplo e polissémico quanto o tempo que o lembra necessite. Apesar da sua marca no imaginário português, constata-se uma dificuldade da cultura contemporânea em fazer sentido da experiência revolucionária, seja pela insuficiência das ferramentas da História, seja pela seletividade da memória. É a partir desta dificuldade que o presente projeto se posiciona.
Orienta-se, assim, o olhar para os esforços de construir a história pública, e os processos de patrimonialização e memorialização do passado revolucionário, abordando Abril no seu lastro simbólico e na polissemia dos seus imaginários. Aborda-se esta temática em duas frentes. Em primeiro lugar a ordem das representações do passado, através de uma análise do desenvolvimento histórico dos imaginários de Abril em exposições documentais realizadas entre 1976 e 2023. Em segundo lugar, uma análise dos diálogos estabelecidos com esses imaginários em três lugares de memória na conjuntura evocativa do meio centenário da Revolução - o Centro de Documentação 25 de Abril em Coimbra, o Museu do Aljube - Resistência e Liberdade em Lisboa, e a Casa da Cidadania Salgueiro Maia em Castelo de Vide. Pretende-se, assim, explorar as perspetivas dos/as agentes da história públicas face aos desafios de memorialização deste passado.
Embora existam já importantes contributos para o estudo de Abril na sua dimensão memorial e patrimonial, estas mantém-se relativamente esparsas e pontuais. Nesse sentido, o projeto tomará o momento propício da efeméride dos 50 anos do 25 de abril de 1974 para unir, dialogar com e ir além destas reflexões, procurando ser, assim, um contributo oportuno para pensar Abril na sua capacidade evocativa e mobilizadora na contemporaneidade, (quase) 50 anos depois.
Consulta de documentação em arquivo. Centro de Documentação 25 de Abril, Coimbra. Foto: João Paulo Pedro, março, 2022
Resultados
Em breve:
Exposição Abril em Tomar: História Local, Global, Atual
Exposição de Autor
01 de Abril a 15 de Junho de 2024 | Casa Vieira Guimarães, Tomar
Financiada pela FCT através do TECHN&ART (Projeto UID/05488/2020)
A exposição Abril em Tomar: História Local, Global, Atual, resultou do processo de investigação desenvolvido no âmbito do presente projeto de doutoramento. Inseriu-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974 no Município de Tomar, resultando de uma parceria entre o TECHN&ART e a Câmara Municipal.
A exposição apresentou os vários momentos que foram marcando o periodo revolucionário (1974-1976) na cidade de Tomar, explorando não só o derrube do Estado Novo, mas as experiências participativas da construção da democracia que marcaram a história local.
Texto de introdução à exposição:
Não será difícil tecer de antemão a manhã do dia 25 de abril de 2024. Os dias anteriores serão um crescendo de esforços noticiados, a assinar a data mais redonda até hoje. Algum dos nossos conhecidos partilhará uma story com os azulejos nos Passos do Concelho de Tomar, onde se lê a icónica «O Povo é quem mais ordena». O café e o pastel de nata serão acompanhados de conversa - a nossa e a da mesa ao lado - sobre um tal Abril face aos resultados eleitorais do mês anterior, e aos últimos 48 anos de resultados eleitorais. Segue provavelmente uma piada sobre uma memória recente de cravos e Grândolas à janela.
Alguns de nós empunharão cartazes, cravos e palavras de ordem. Alguns recordarão este dia há 50 anos, e os dias e noites de militância, azedume e esperança que lhe seguiram. Alguns de nós deixarão passar o feriado, por escolha ou por hábito, sabendo do dia mas com outras prioridades em mente. Alguns de nós, nascidos e criados depois da Revolução, irão tecer opiniões e pintar memórias herdadas de um Abril que lhes foi transmitido pela escola, pelos meios de comunicação, pela família - um Abril que escolhemos assinalar, rejeitar ou atualizar.
Sem dúvida a palavra do dia será “LIBERDADE”. Palavra unificadora. Engloba afinal o suficiente de Abril para reunir uma memória em que quase todas as disposições se têm conseguido rever. Tudo mais que Abril congrega (as suas promessas, contradições, os encantos e desencantos) mantém-se hoje nas disputas pela memória.
Esta exposição surgiu de um levantamento preliminar sobre a história do período revolucionário em Tomar (1974-1975). Não se pretende apenas assinalar uma série de “curiosidades locais”, pois a história local não é uma história menor. Pretende-se sim mobilizar a Revolução vivida em proximidade, e evidenciar que Abril não se reduz ao dia 25. A Revolução prolongou-se num processo complexo e em diferentes fases de construção e disputa pelo futuro, primeiro durante 18 meses, e depois 50 anos.
Esta exposição assinala um tempo marcado pela possibilidade de imaginar diferentes projetos de sociedade. Sem esperar que viesse autorização central, fizeram-se comissões, organizaram-se grupos de debate, de esclarecimento e comícios, encheu-se as ruas e espalharam-se cartazes, escreveu-se para os jornais. Enfim, lutaram visões opostas sobre o futuro de Tomar e do país - eventos frequentemente simplificados pela narrativa dos “excessos” ou pela sua romantização.
Nos seus 50 anos, importa que a febre evocativa não canse nem cristalize Abril num panteão de consensos. Importa que Abril continue a provocar projetos de futuro: «que farei eu [que faremos nós] com esta espada?»
João Paulo Pedro, um “neto” de Abril.
Cartaz da exposição; Design: Alexandra Matias
Inauguração da Exposição | 01.04.2024
Reportagem no Jornal regional “O Mirante”:
https://www.youtube.com/watch?v=MIZpCcL5msk
©Instituto Politécnico de Tomar | Todos os direitos reservados |
Copyright